31 de agosto de 2010

De saída...Perú/Bolivia



De saída para mais uma viagem...O planeamento está feito, a mala também, a vontade de entrar no avião muitaaaaaaaaaaaaa!!!!

Uma viagem de mochila às costas, pelo Peru e Bolívia, com deslocações em transportes locais (normalmente de autocarro), excepto no final de regresso de Cuzco para Lima. Alojamento barato, eventualmente com famílias locais. Refeições em restaurantes tradicionais.

podem acompanhar via SPOT !



Peru 

Dia 03 e 04: Portalegre- Lima 
#Saída para Nazca: Autocarro nocturno (poupa-se tempo e na dormida). 


Dia 05: Nazca (443Km) 
. Nazca: 
Património Mundial da UNESCO. 

#Saída para Arequipa: Autocarro nocturno (poupa-se tempo e na dormida). 

Dia 06, 07: Arequipa (565Km) 
 Arequipa: 
Património Mundial da UNESCO
# Saída para Puno: Autocarro 

Dia 08, 09, 10: Puno (292Km) 
. Puno: 
Ponto de partida para visitas ao lago Titicaca e às ilhas flutuantes dos Uros.

Bolívia 

Dia 11 e 12: Tiwanaku (182Km) e La Paz (60Km) 
. Tiwanaku: 
Património Mundial da UNESCO. 
. La Paz: 
Grandes e impressionantes bairros de lata. Muita cultura indígena. Explorar o mercado em torno da Plaza San Francisco. Partir daí para uma visita ao Valle de la Luna.

#Saída para Uyuni: Autocarro nocturno (poupa-se tempo e na dormida). 

Dia: 13, 14, 15: Uyuni (552 Km) 
. Uyuni: 
 Corais petrificados, Árvore de Pedra, Lagoas Altiplanicas, Lagoa Colorada, Campo Geotermal (5000 metros de altitude), Lagoa Verde. Possibilidade de dormir num hotel de sal. 

#Saída para Potosi: Autocarro nocturno (poupa-se tempo e na dormida). 

Dia 16 e 17: Potosi (219Km), Sucre (162Km) 
. Potosi: 
Património Mundial da UNESCO 

. Sucre: 

#Saída para La Paz: Autocarro 

Dia 18: La Paz (701Km), Coroico (80Km), La Paz (80Km) 
. Coroico: 
Capital das Yungas do Norte. Dos mais bonitos cenários de montanha do país. Ponto de chegada da Estrada da Morte (a estrada mais perigosa do Mundo - La Paz-Coroico - 80 Km em 3,5 horas - 2USD/pax). Apanhar um transporte de pequenas dimensões (pode ser uma experiência um pouco assustadora). Dá para ir e vir no mesmo dia. 
Ali perto vale a pena visitar o Parque Natural de Manu: Necessário ter a vacina da febre amarela. 

#Saída para Puno: Autocarro 

Peru 

Dia 19: Puno (242Km) 

#Saída para Cuzco: Autocarro 

Dia 20, 21: Cuzco (389Km) 
. Cuzco: 
A cidade é muito bonita. Ponto de partida para Machu Pichu.  

. Machu Pichu: 


. Parque Natural de Manu:


#Saída para Lima: Avião (voo local) 

:: Caso sobre tempo, ir de autocarro até Huancayo e daí fazer o percurso até Lima, de comboio, sendo este dos mais bonitos do Mundo 

Dia 22: Lima (1102Km) 
. Lima: 
Património Mundial da UNESCO 

:: Plaza de Armas; Catedral; Igreja e Convento de San Francisco; Paseo de Aguas e Alameda de los Descalzos no bairro Rimac; Praias de Miraflores; Bairro Boémio de Barranco; A Callao (fortaleza do Rei Filipe); Museo Oro del Peru; Museo Pedro de Osma 

Dia 23, 24: Margem de folga 

Dia 25, 26: Lima - Lisboa 

27 de agosto de 2010

Numa noite ao luar...

...tive oportunidade de fazer um caminhada nocturna a solo pela planície Alentejana na noite de hoje, deambulei por aldeias adormecidas, vinhedos carregados de uvas que em breve se transformarão no tão prezado néctar que é o vinho Alentejano, deixei-me "perder" entre manadas de vacas que aproveitam o fresco da noite para se recompor após os dias sob o sol intenso que se faz sentir nesta altura do ano...

...a lua e as estrelas foram o meu guia, melhor do que qualquer sessão de cinema, as cigarras e grilos assim como os badalos do gado "Vacum" foram a banda sonora, o aroma da terra e dos campos semeados a cereja em cima do bolo...

Descobri o meu Alentejo preferido á noite...longe das cidades,com o céu como tecto e a lua como companheira de viagem...

26 de agosto de 2010

Diário Raid Burkina 2010 (dia 11 a 15)

Reproduzo aqui o Diário de Viagem de D.S. amigo e companheiro nesta tão singular viagem pela África do Norte e Oeste .


11.08.2010 


Madrugada e manhã de tempestade tropical. Muita chuva, trovoada e vento. Temperatura sempre boa. No “Auberge” de Segou o triplo a.p.a são CFA 39.000. Ao de leve Segou recomenda-se. Apelidava-a de uma cidade rústica e cosmopolita. O Rio Níger é enorme em frente às margens da cidade. Transborda também. O nosso destino de hoje é Djenné, famosa pela sua grande mesquita de barro. Depois de 30kms em asfalto entramos em pista de barro. Serão 230kms de magnífica pista de barro até ao destino com passagem por 

vários povoados. Paisagem bucólica e chuva só um pouco. A terra quente e a vegetação transpiram e o seu suor é de um odor forte, que oprime os brônquios não deixando contudo de ser agradável, relaxante. 
 Próximo de Djenné chama-nos a atenção um povoado distante pela sua enorme e imponente mesquita. Pelos binóculos vimo-la melhor. É imperdível. Vamos visita-la. O ritual introdutório é cumprimentar e conversar um pouco com os anciãos da aldeia que desta estão meio deitados numa plataforma à entrada. Depois, com o seu consentimento e umas CFA para cola lá fomos visitar o povoado. 

Ruelas muito estreitas, em barro, lama e água mas em tudo o mais limpa. Brincamos e fotografamos a criançada que estava eufórica. Chegamos à mesquita no ponto mais elevado. É magnífica mas está “asfixiada” pelo casario pelo que não pode ser devidamente apreciada e fotografada. Os insectos não nos largam. Voltamos a descer e retomamos a pista para o nosso destino.

Djenné é uma desilusão como urbe. O seu pessoal não fica atrás. Alojamo-nos no “Campement Hotel Hauber” – quarto triplo CFA 25.000 e duplo 20.000; pequeno-almoço CFA 2.000 e jantar CFA 5000. De “campement” tem os telhados dos bungalows que nesta época são inutilizáveis. Pessoal do hotel pouco simpático e prestável. Sem net, chovia pelo telhado de palha da recepção, os bungalows tinha a.c. mas eram paupérrimos. A “foto” estava feia. Não merecia a impressão quanto mais a moldura. Se fosse possível carregava no “delete”. Tudo muito fraco. Demos uma volta à vila. Na praça a seguir ao hotel decorria um jogo de futebol entre djennenses com uma bola muito leve e fugidia. Seguimos para a mesquita sempre acompanhados pelos insectos voadores e os pedantes também. Não há forma de te livrares deles. A mesquita está em obras e custa uma fortuna visitar o seu interior que nada tem de interesse. É apenas para franquear. Queríamos comprar uns chapéus Dogon e o Antonio disse-nos que o melhor local era o mercado que transbordava para a praça da mesquita. A mesquita fica melhor na fotografia. Vá lá – é fotogénica. Lá entramos no recinto do mercado.


A enxovia e o colorido do costume, sujo e fedorento. Sempre que podemos “roubamos” umas fotos. As vendedeiras não curtem principalmente porque não compramos nem confraternizamos. É “roubar” mesmo. Conscientes mas não conformados sempre a fazer click. O “man” dos chapéus não veio mas o nosso guia involuntário diz que logo ali e coisa e tal não faltam chapéus bons e baratos claro. Não fizemos negócio para seu descontentamento. Como não fiz grande negócio com o tuareg de Segou decidi que os próximos remediariam o deficit. Aceitaria ser benevolente se houvesse troca por roupa que levava para o efeito. Caso contrário só pechincha. Mas o que regala as vistas deste pessoal é o material electrónico. Não voltamos para o hotel sem que o nosso guia nos levasse pelas congostas do vilarejo e nos fizesse entrar numa casa e subir até ao telhado onde havia chapéus. Por um momento pensamos que nos estava a por a jeito mas não esta gente é ardilosa, teimosa, melguenta, mas não é delinquente nem violenta nestes cenários. Já no recinto do hotel, logo à entrada, existiam umas barracas de artesanato. Tinha peças interessantes inclusive os chapéus. Antes e depois de jantar foi uma azáfama negocial. Ao jantar não tinham bebidas alcoólicas nem permitiam que trouxéssemos as nossas. Ficamos furiosos. Perguntamos se era pelo facto do Ramadão começar no dia seguinte – o que até compreenderíamos – dizem que não. A proibição é para sempre. São motivos religiosos. Grandes talibãs. Tirem-me daqui. Ficou famosa a frase – “Djenné jamais”. Quanto às negociatas fui mais uma vez bastante benevolente nas trocas. Resumindo: comprei três colares na urbe por CFA 10.000 e a um dos comerciantes do hotel, uma máscara, uma estátua Bambara (a Tiuara que é o troféu atribuído ao melhor agricultor do ano) e um chapéu Dogon por € 40 e 4 pólos. Por ele ficávamos a negociar mais material mas eu logo disse que a partir de agora seria só troca directa.

Apareceu o homem do Subaru que tinha ficado em Bamako a tratar do visto para a Mauritânia. Claro que na embaixada ficaram curiosos como é que ali estava sem visto. Clandestino pois claro. Grande maluco. Anda por aí sozinho por estradas e pistas. Desta, quando se dirigia a Djenné, para cortar caminho, meteu-se já de noite numa pista. Acontece que, logo à frente a pista estava alagada. Parou no último momento. Mais um pouco passaria a noite atascado no meio do nada e com os pés molhados. Borrou-se todo. Isto é sorte pura e um acto destes é manifestamente reprovável. A aventura pode terminar com um acto irreflectido destes. Para si e para os companheiros de viagem. Acresce que, como anda num carro a gasolina, desespera para arranjar combustível e anda carregado com bidões de plástico cheios na mala. Uma bomba relógio este Glacius. O seu móvel não funciona. Uma figura desafogada à solta em solo que pede alguns cuidados.
Depois do jantar voltei aos negócios por insistência de um dos comerciantes. Logo lhe disse que não tinha mais dinheiro. Só troca por roupa. De volta recebi o casal de estátuas Soré (do povo Amoré, rima não é?) em bronze e nas quais se encontra a serpente símbolo da abundância e da sorte – a serpente de um modo geral vive onde há abundância de água, vegetação e outros animais que lhe servem de petisco. Acabo de atender este e logo sou chamado pelo primeiro. Desta foi ao baú buscar as preciosidades. Pronto mais umas roupitas e lá trouxe uma máscara Bozo em terracota e outra em ébano para equilibrar o negócio. Bom, se não foi assim foi parecido. Só vou confirmar quando “desmontar” os embrulhos e as malas. Estes comerciantes ganham a vida com o artesanato mas fazem questão de discutir o preço explicar o significado de cada peça, especialmente as máscaras e as estátuas. Nós é que entramos e saímos a todo o gás pois o raid não permite muito relax.


12.08.2010 


Madrugada de chuva forte. Manhã encoberta mas sem chuva. Entrar e sair de Djenné pelo lado sul obriga a usar o ferry para uma pequena travessia do Bani, afluente do Níger. Como sempre os vendedores aguardam os viajantes. Lá fiz mais um negociozito – uma estátua esguia em bronze de uma agricultora. As esguias estátuas africanas são magníficas. Hoje terminamos a nossa etapa em Sangha, um dos muitos povoados do Reino Dogon. Estes povoados situam-se por toda a Falésia, Planalto e Planície de Bandiagara. Pelo caminho temos um P.E. nas Ruínas de Hamdalalle a norte de Somadougou (e não a sul como o António colocou no programa para o pessoal se perder e falhar o ponto) e outro, no porto fluvial de Mopti onde almoçaremos. A paisagem é sempre verde, viçosa e está tudo enlameado. Após a época das chuvas as construções e casas, feitas de barro, têm que ser restauradas. As suas paredes vão sendo corroídas pela chuva forte transformando-se em água lamacenta que corre pelas ruelas e esgotos a céu aberto. Após as ruínas, percorremos 30 kms de pista até Mopti. Bela pista.





Em Mopti o PE é no grande porto fluvial. Daqui afluem todos os barcos que transportam pessoas e mercadorias pelo Rio Níger até Tombouctou com vários apeadeiros. O Restaurante Bozo onde planeamos almoçar ficava no lado contrário ao que estacionamos. Para não contornarmos o perímetro, obra deveras difícil, apanhamos uma “pinaza”, uma piroga local feita em tronco de árvore escavado que, com muita gente a bordo assusta um pouco pois a água quase entra a bordo. A ideia de cair naquela água suja e barrenta não é nada saudável. O prato não podia deixar de ser peixe capitã que parece que o tiveram que ir pescar após a encomenda. Demoram duas horas para nos servir, por defeito. Depois a quantidade foi muito pequena para o pessoal. Estava bom? Isso sem dúvida. Não parecia peixe de rio. Magnífico pitéu. 
Claro que tudo o que é vendedores nos aguarda. Passamos pelos estaleiros onde são feitos com muita mestria os veículos que nos transportaram. Voltamos de piroga desta só eu, o António e outro passageiro que fomos deixar a um barco bastante maior, ao que presumi para uma jornada mais longa. Isto fez com déssemos um passeio por toda a baia do porto que tem um transito fenomenal de embarcações de grande colorido e tamanho variado, algumas preparadas para fazer o “cruzeiro” de vários dias até à capital do deserto. Abriu o sol e sentimos logo o rigor tropical mesmo no meio da água.

Chegados ao “parking” grande confusão: tudo e todos queriam receber o parqueamento das viaturas. Como os empurramos todos para o António, “no veas”.
Continuamos para Sangha, via Bandiagara, onde vamos ficar hoje e amanhã para visitarmos alguns povoados. São 50kms de asfalto e 30kms de pista de barro e rocha mas sem pedra solta com alguns vadeos. Ficamos no Campement/ Hotel La Guina – triplo CFA 30.000 e duplo CFA 25.000; p.almoço CFA 2.000 e refeição CFA 4.000. Ao jantar conhecemos um casal holandês que viajava com as três filhas. Vinham de Roterdão em dois 4x4. Na Mauritânia andaram pela Pista do Comboio, Atar, Chinguetti, Tidjika e finalmente Tombouctou onde venderam um dos carros. Daí seguiram para o Reino Dogon. Depois de um serão de troca de vivências, experiências e duas de branco fresco tudo a dormir.



13.08.2010 


Hoje não levantamos arraial. Vamos visitar os povoados circundantes e voltamos à base. Um local veio perguntar ao Vicente se queria que lhe lavasse a roupa ao que este respondeu que sim, dependendo do preço. Acho o valor tão exorbitante que lhe disse para ele ir buscar a roupa dele que ele, por esse preço também a lavava. Confirma-se que a África é pobre mas não é barata. Lá fomos dar o nosso passeio pela falésia que é magnífica com a sua imponente queda de água e as construções Telem e Dogon nas rochas até alturas impensáveis. Descemos a falésia e já no planalto, a 350m de altura, contornamo-la admirando as construções edificadas na base e arribas. Paramos numa plateia natural virada para a falésia, entre três árvores, para preparar o almoço. A temperatura está fabulosa, o céu nublado com abertas. Um lugar a fixar (N14°26.580’/W03°17.786’).


Está a sair uma tortilha com cogumelos feita pelo Tomás e esposa que está com um óptimo aspecto. Não era só aspecto.
Quando não eis que aperece um Toyota de aluguer com condutor com o pessoal do Peugeot 405 que tinham ficado em Sandaré – o Joan, o David, o Ivan e a Mónica. Não tínhamos notícias deles há três dias e aparecem – nos neste lugar remoto. Por estas bandas, vá lá saber-se porquê estamos sempre a ser surpreendidos. Repararam-lhe o cárter, deram um “jeito” na frente e já está apto para rolar. Por precaução deixaram-no em Bandiagara e vieram para os povoados de 4x4 alugado. Foi uma surpresa magnífica. Nada sabíamos da sua sorte e, afinal, conseguiram avançar “alive and kicking”. Almoçamos juntos enquanto nos contaram os pormenores da sua aventura. Não podiam faltar os habituais locais que aparecem do nada e nos “envolvem”. Um deles montou banca de artesanato e, diferentemente de todos os restantes que nos melgam, não disse uma palavra. Fomos nós que nos abeiramos e lá fiz mais uma comprita: duas pequenas estátuas dogon em ébano que apelam à boa sorte. Voltamos para o hotel e de seguida fomos visitar Sangha, o povoado dogon onde estamos acompanhados por um residente, o Suliman. A aldeia é comunitária varia entre o barro e o xisto, com ruelas muito estreitas. O povo dogon é agricultor. Os seus vizinhos Peul são pastores. A casa da família é um elo muito importante. Quando casam os dogon “montam” casa mas a casa dos pais continua a ser a casa da família que fica em herança para o filho mais velho. A família do Suliman é a “Tartaruga”. Então, no curral, que fica no perímetro exterior da casa, têm uma tartaruga convivente com as cabras e as galinhas. Algumas casas têm cozinhas típicas dogon – a parede frontal é decorada em favo e têm pendurados vários objectos de culto e do quotidiano e caveiras de animais. A porta principal e o postigo são esculpidos. No beiral superior estão cheias de ninhos de andorinha. É também vulgar o silo para guardar os cereais. O chão é em terra batida e nesta aldeia encontra-se sempre bem limpo. Fomos visitar a casa do ferreiro e sua forja. É uma actividade importante na aldeia. Conhecemos também a viúva do anterior Ogon – o ancião chefe da aldeia. Muito de fugida apontou-nos o actual que aparentava pressa. A praça dos povoados Dogon têm uma espécie de telheiro com pilares e estrutura em troncos de madeira e telhado com várias camadas de colmo onde os mais velhos passam parte do dia a descansar e conversar em compridos bancos de madeira que, com o uso até estão brilhantes, de polidos. têm também como função serem “A Casa da Palavra” da aldeia. Quem tiver algo para dizer ou alguma queixa a fazer à comunidade é nesse local. E por esse motivo que têm o tecto tão baixo. Se o orador se exaltar e levantar logo bate com a cabeça nas traves e amansa. Cool. Existe também na aldeia as “Maisons des Régle” que são umas cubatas periféricas à aldeia para onde vão as mulheres quando estão no período menstrual. Deixam a sua casa de família e vão para essas cubatas. Passado o período regressam à família. Prontos pá. Visitamos também o túmulo do primeiro francês que visitou o reino dogon e cuja ossada ficou em Sangha. Visitamos também o moinho comunitário que têm pouco encanto – já é a gasóleo. Assim terminou a nossa visita e voltamos ao hotel com o nosso guia e mais um que se colou. Oferecemos-lhe uma cerveja e estivemos a beber e aconversar um pouco com eles. Acho que não estão habituados a beber e logo perderam o “fio do jogo”.


Após o jantar ouvia-se sons de festa vindos da aldeia. O Miguel e o Tomás decidiram ir ver. Chegados encontraram um grupo de jovens a cantar e adançar sendo que as raparigas é que cantavam e dançavam e os rapazes limitavam-se a assistir. Terminada a festa dirigiram-se aos intrusos a solicitar “cadeuax”, o costume. O Miguel que andava sempre com os seus balões para oferecer à criançada deu-lhe para encher alguns e começar a dar aos presentes. Bom, a coisa não caiu bem. As raparigas acharam o “cadeaux” desajustado e começaram a barafustar contra eles. A coisa começou subir de tom, enquanto os rapazes tentavam acalmar as moçoilas. O Miguel e o Tomás começaram a ficar amedrontados e a recuar sem tirar os olhos de cima delas já que, quando voltaram costas, começaram a “voar” algumas pedras. Imaginem isso num cenário de ruelas muito estreitas e sem qualquer luz a não ser a lanterna de cabeça do Miguel que era um dos objectos cobiçados. Quando conseguiram algum espaço deram a correr para fora da aldeia em direcção ao hotel. Não ganharam para o susto e valeu-lhes que os moçoilos em vez de se empertigarem procuraram acalmar a ira das fêmeas. Não ganharam para o susto. Esterismos colectivos nestes cenários são complicados.
Para sexta feira 13 a coisa correu-lhes bem.



14.08.2010 


Temos hoje pela frente uma longa jornada. Vamos atravessar o Reino Dogon e visitar alguns dos seus povoados percorrendo 80kms de pista que, com as recentes chuvadas estão inundadas e enlameadas com alguma zona de rocha também; cruzar a fronteira do Mali com o Burkina Faso e o resto do trajecto até Ouahigouya parte deste em estradão de barro. Desciamos a falésia e vimos à esquerda, entre o arvoredo, um Patrol com matricula portuguesa. Paramos e dirigimo-nos ao jipe logo aparecendo um nosso patrício com quem trocamos algumas vivencias de viagem. Andavam a “circular” por África à três meses e vinham da Guiné Bissau. Passamos várias aldeias e paramos em duas – Domblossougou e Barapireli - para visitar e tirar umas fotos. O ritual é chegar aos povoados e dirigir-se aos anciãos que normalmente estão a dormitar na “Casa da Palavra”. Cumprimenta-los e dar-lhes alguns CFA. Só depois é que se pode visitar o povoado e tirar umas fotos. Sucede que em um dos povoados os velhotes não ficaram lá muito contentes com o donativo e manifestaram – no. Ainda tirei uma foto a um deles e ao telheiro mas quando ia para fotografar outro, já não permitiu. Foram conversando com o António a pedir mais algum enquanto nós íamos “roubando” mais algumas fotos. A 15 kms da fronteira atasquei o Toyota que teve que ser rebocado de traseira pelo Patrol do Miguel. O António começou a gozar mas não tardou foi a vez dele de atascar. A pista termina num pântano bem difícil de ultrapassar e termina em Koro, povoado fronteiriço onde está a aduana e se entrega o passavant. Para encontrar o posto deciframos um autentico labirinto; 10kms à frente a policia de fronteira. As instalações uns barracos; as linhas de fronteira umas pedras e uns bidões. Segue-se a fronteira do Burkina Faso. Toda esta ligação é feita num estradão largo de terra vermelha que dá para rolar bem. As instalações burkinabes têm melhor aspecto e só pagamos CFA 500 na policia e depois, em Thiou, mais CFA 5000 para a aduana. As demarches de entrada no Burkina são muito mais simplificadas. Alás é um pais mais limpo e organizado que os anteriores que visitamos. A Luso Team (nós no HDJ 80 e o Miguel e o Diego no Patrol) tinha decidido levar o Diego a Ouagadougou para apanhar o avião no dia 16 logo não ficaríamos em Ouahigoya. Comentamos com o pessoal e decidiram irmos todos para a capital principalmente quando o António disse que o hotel tinha piscina e pizzas. A pista de barro mais à frente fica demolidora com tanto buraco e regos. Tremenda mestria a das cabras a comer em duas patas as folhas das acácias carregadas de picos enormes. Está tempestade para os lados da capital. Esperamos que seja passageira. Não é. Pelo contrário está a agravar-se e já não se vê a 30 mts. Depois abrandou mas não parou. Ouagadougou recebe-nos molhada. É a cidade das bicicletas. São aos milhares. Tínhamos planos para um passeio depois do jantar mas a chuva e o vento não pararam e desanimamos. Apenas o Diego que não tinha jantado decidiu ir ao centro. Lá convenceu um dos funcionários do hotel e foram na mota deste. Estava focado em jantar no “De Niro” dada a indicação do Lonely Planet. Nada feito. O restuarante aparentava estar fechado de vês. Terminou num chinês e deu uma volta pelo centro. Descobriu o “Loft” para beber um copo mas cada cocktail custava € 8 e o seu acompanhante recusava-se a tomar uma bebida por esse preço mesmo sendo o Diego a pagar. Tomara. O seu salário mensal são € 50.
Quem estava também no hotel era o Pepicant de quem nos tínhamos despedido em Sangha. Foi para a capital pois ia também regressar de avião na madrugada seguinte e pretendia vender o seu Pajero. Teve sorte e naquela tarde conseguiu negócio por um preço bem razoável. Despedimo-nos mais uma vez dele e do filho desejando-lhes boa viagem. A nós desejaram-nos o mesmo.





15.08.2010 

A manhã foi também de despedidas. Do Diego, companheiro de viagem do Miguel e que andou sempre com a Luso Team e que partia para Inglaterra. Fizemos grande amizade e prometemos reencontrarmo-nos o mais rapidamente possível. Despedida também do famigerado Team Peugeot 405 que já não seguia para Bobo. O seu destino sempre foi Cotonou, capital do Benim. Com o azar do cárter já não quiseram desviar-se de rota e estavam indecisos se vendiam o Peugeot em Ouga ou se seguiam nele até ao seu destino e vendiam-no lá. Espero postar aqui a continuação da sua aventura descrita pelo Joan, um jovem médico que já aparentava muito “know-how”.
Despedidas feitas fomos dar um passeio pelo centro da cidade que embora limpa e arrumada não mostrou nada de atractivo. É uma capital pobre de um pobre pais africano. Mas briosa. O calor e a humidade que se faz sentir logo nos empapa. Vamo-nos habituando mas não somos destas bandas.
Hoje, em Bobo Dioulasso termina o Raid Burkina 2010 e é para lá que nos dirigimos. Pelo caminho desviamos com o Miguel para apanhar um geo – tesourinho. Passamos por uma coluna militar apeada chefiada á frente atrás por duas mulheres. Burkina no seu melhor. Procurar tesourinhos em geocaching é sempre obra. Fuça aqui, fuça ali. O tesourinho, ao que parece, foi colocado no terreno que pertencia a uma missão e o local evidenciava obras recentes. Lá foi o dito. No problem. Procura-se outro. À saída da cidade vários troncos de árvore esculpidos. Uma boa ideia. Em vez de arrancar as arvores, que tal esculpi-las?
Saímos de rota para mais um tesourinho falhado mas desta subiram em vão um promontório bem íngreme e distante de onde aparcamos os carros.
Em África não há reboques ou são raríssimos. Se tens uma avaria na estrada que não possas deslocar-te por meios próprios a solução é fazer o conserto na estrada. Se for necessário substituir peças à que tira-la no local e ir buscar outra para repor. Se for para consertar peças o processo é o mesmo. Desmontar, ir conserta-la e voltar para a repor. Para sinalizar as avarias em estrada usam arbustos. Cortam uns quantos e colocam-nos à frente e atrás do veiculo a uma distancia razoável.
Chegamos a Bobo Dioulasso. O Toyota saiu de Ourém com 285.848kms e está com 292.770. Rolamos 6.922kms. Alojamo-nos no Hotel Auberge (CFA 36.000 a.p.a.), banho de piscina, de banheira e vamos jantar para festejar o final do Raid Burkina 2010. A mesa está posta na borda da piscina. Dos participantes faltam, por ordem de despedida: o Pablo da BMW que teve um acidente antes de Bojador e foi repatriado para Espanha; o Pepicant e o filho que se despediu de nós em Sangha e voltamos a encontrar em Ouga que e regressavam a Espanha de avião; os quatro magníficos do Peugeot 405 que ficaram em Ouga para seguir para Cotonou, capital do Benim daí de avião para Espanha; o Diego que também ficou em Ouga par voltar para Inglaterra de avião. Convidados a filha de António e uma amiga que apareceu e se juntou ao grupo que passo a nomear: o António; o Roman “Glacius”; o Vicente e seus dois filhos; Tomás e a esposa; a Luso Team composta pelo Frederico, o Domingos, o Diogo e o Miguel. O António, desorganizador máximo propôs que todos fossem considerados vencedores do Raid. A “porra” seria para pagar o jantar e depois dividida por carro. Toda a gente aceitou e coma-se muito e beba-se melhor.Com alguns contratempos terminou bem o Raid Burkina 2010. Para o ano “A Tribo” (La Tribu) vai até à Costa do Marfim.
Depois do jantar ainda fomos ver um show de precursão num clube perto hotel. Aliás, Bobo, é uma cidade de música ao vivo por todo o lado. Toda a noite ouvimos música proveniente de todas as coordenadas.
Amanhã começa o nosso regresso. O resto do grupo, que vai seguir directo, fica mais um dia em Bobo. O nosso próximo destino é Dakar.


25 de agosto de 2010

Diário Raid Burkina 2010 (dia 6 a 10)

Reproduzo aqui o Diário de Viagem de D.S. amigo e companheiro nesta tão singular viagem pela África do Norte e Oeste .


06.08.2010 


Despertar às 7h. É sempre bom chegar cedo a uma fronteira africana porque a coisa sempre se complica. Correu bem? Acorda, estás a sonhar com áfrica.
Chegamos a Guergarat ainda a fronteira estava fechada. Supostamente deveria abrir às 9h mas não há jeito. Uma meia hora depois lá a coisa começou a mexer. Docement...
O ritual é o seguinte: carros em fila aguardam a vez de serem chamados para entrar no “parque” da fronteira. Se não querem levar uma daquelas descompostura jamais ultrapassem o sinal de “Haute de Police” sem a instrução do “fardas”.
Enquanto se aguarda, para adiantar serviço, pode levantar-se o formulário fronteiriço e preenche-lo. Entrados, o passo seguinte, é o guichet da polícia. Há que colocar o passaporte e o formulário no canto direito do guichet. Se já lá houver outros é coloca-lo por baixo.
À vez, o "secretário" chama pelo que é melhor aguardar por perto. Para tratar dos trâmites de saída do veículo o proprietário/detentor da viatura quando liberado deve dirigir-se à aduana com o passaporte, o documento único e o documento de entrada do veículo em Marrocos. Só fica a faltar uma “espécie” de polícia militar que também têm que "visar". Mais uma vez basta ir o dono do carro com os documentos anteriormente referidos.
Estamos prontos para atravessar a franja de terra com cerca de 3 kms que separa a fronteira marroquina da fronteira mauritana.
Chegados á fronteira os procedimentos são mais ao menos os mesmos acrescendo que têm que se estar munido de visto e fazer o seguro do automóvel que cobre diversos países. 
Apareceu o Arturo, um guia mauritano bem conhecido de muitos portugueses e um cromo que tinha trabalhado na pesca com portugueses e que não se cansava de dizer alto e em bom som: “Então português, estás bem ou estás fodido, pá? És de Peniche, português?” Claro que fica a faltar aqui o sotaque e o “look” do cromo.Todos andam a ver se ganham algum no que quer que seja que o transfronteiriço precise. Até o Arturo anda a fazer trabalho de fronteira. Não há expedicionários para acompanhar na pista do comboio, Atar, Chinguetti “and so on”.
Depois da frescura da manhã vêm o calor do meio-dia que aperta um pouco. A expectativa aperta pois um dos participantes não têm visto. Fazem-se apostas. Vai passar, não vai passar? É que não estão a passar vistos na fronteira. Uma rapariga informa-nos que os "fardas" marroqinos estavam a zoar que havia alguém no grupo sem visto; um africano dizia que teve que ir a Rabat tirar o visto; passou de volta um furgão matrícula polaca com dois africanos sem visto – a coisa estava feia. 





Desta as revistas aos carros foram exaustivas – meia hora por carro. É em nome da segurança, ok. O pior era a grande probabilidade de ficarmos sem os nossos vinhedos e as nossas cervejolas tão fresquinhas que iam. Mais uma grande expectativa.
Chegamos à fronteira às 11.30h e saímos às 16h. Pachorra. Haja. Ainda bem que as expectativas foram positivas. Passou o Glacius, os vinhedos e as cervejolas. O António lá “convenceu” os fardas a deixar passar o Glacius… O álcool foram precisos grandes coros e a maquina fotográfica desfeita do Fred (que tinha caído do jipe para a estrada a cento e vinte à hora a alturas de Al Jadida).
Os custos são de € 12,50 por carro na fronteira e de € 21 para o seguro de 30 dias.
Avancemos para Nouakchott (ou Nãoháquemtenxote como começa a ficar conhecida). No nosso carro quem ganhou a aposta foi o Fred. Vai jantar à pala na capital mauritana. Entramos no deserto mauritano primeiro para leste e depois para sul. O calor começa a apertar forte. Estão 40° e são 16.30h. Uma hora depois, mais interior, o termómetro marca 47°. Paramos a cerca de 130 kms da capital no ponto onde os catalães foram raptados, já lá vão 10 meses, e fizemos votos para a sua mais rápida libertação em boa saúde. O ar estava irrespirável, denso. O sol torrava, fritava. Não se via nenhum ser vivo...





 Pelas 19.30, já perto do mar, a temperatura amainou para os 30°.


Num dos muitos controles policiais, a cerca de 10 kms de Nkt, reparamos que a azáfama era maior que a habitual. Estavam muitos polícias e diversas motas. Nada mais, nada menos do que para nos escoltar. Então, fomos com escolta policial até ao hotel. A escolta não era nada sincronizada entre os motoqueiros e os apeados no terreno. Estávamos a ver quando é que um se “atirava” para o chão. Na via de acesso tudo ok, mas quando entramos na cidade, imaginem a bagunça. Nouakchott quase parou para a gente passar. Nas rotundas era o caos pois os agentes das motas chegavam em relâmpago e pretendiam que o transito parasse de imediato para dar-nos prioridade.

Lá chegamos ao Hotel El Amade onde o aparato policial era ainda maior. Para além da polícia que nos acompanhou estavam lá umas boas duas dezenas de policia comim e polícia militarizado incluído a célebre “pick up” africana com um guarda e sua arma automática de grande calibre na caixa aberta. O António tinha solicitado escolta desde a fronteira. Como parece que a situação está mais calma as autoridades mauritanas entenderam suficiente a escolta para entrar na cidade. Opinião pessoal, esta é a melhor forma de chamar a atenção de quem pretendemos evitar.
Muitas vezes a opinião que fazemos de um hotel depende de pormenores que, por esta ou aquela razão, não são iguais para todos os hóspedes no mesmo momento. Neste caso uns reclamavam que não tinham a.c., outros que o a.c. estava óptimo e quase os gelava e ainda outros (o nosso caso) que o a.c. era deficitário ou nulo. Fica a referência: “Hotel El Amabe”, depois de o habitual regateio e tese de grupo, € 50,00 quarto duplo a.p.a.
Fomos jantar a uma pizzaria conhecida do António longe quanto baste do hotel mas tudo bem: é necessário esticar as pernas e a noite estava amena.
O casal do 4Runner não gostou do hotel e decidiu ir para outro. Não facilitaram: um polícia à porta do hotel e outro à porta do quarto. O Tomaz estava estupefacto. Nunca se tinha sentido tão seguro.
A saída de Nkt foi igualmente escoltada só que com menos aparato e inconveniência para os locais. Sábado, pouco trânsito...







07.08.2010 


O pequeno-almoço foi bom. Aliás tenho reparado que os pequenos-almoços em África estão a melhorar substancialmente. Toca a rumar ao Senegal e a mais uma grande expectativa. Será que vamos conseguir entrar no pais que, desde Junho, decidiu passar a cumprir à risca a legislação “morta” sobre a entrada de veículos no pais – é obrigatório levar o CPD – Carnet de Passage en Douane - que em Portugal é emitido pelo ACP mas com exigências inaceitáveis. Nenhum de nós o têm. A ver vamos. Para já, rodas na estrada que a paisagem vai mudar. Se não nos deixarem entrar no Senegal o transtorno é mais que enorme. Implica muito sacrifício já que, além do mais, como vamos pela pista de terra de Diama (ou do PN de Diawling), se não entrarmos e tivermos que voltar são, de uma assentada, 200 kms de pista sem qualquer utilidade; aceder à Rota da Esperança desde Rosso além de ser feito em estradas secundárias são muitas centenas de kms debaixo de temperaturas próximas dos 50° nesta época. Começa a savana a mostrar as primeiras acácias. Aparece a África negra.




 As casas e as pessoas começam a “oprimir” as estradas. As pessoas não ficam ao longe. Começam os perigos da malária – replente obrigatório, roupa que cubra o corpo é bastante aconselhável. Profilaxia como manda o médico.
A pista de Diama encantou toda a gente não só pela sua beleza mas porque o pessoal gosta mesmo é de off-road - taxa de passagem são € 5 por pessoa. Ao HDJ caiu-lhe uma pala. Embrulha e guarda. Chegamos à fronteira mauritana de Keur Massene – policia mauritana € 10 por carro; passagem da ponte € 20, é sempre a somar, digo, a subtrair, à caixa.


Agora é que vão ser elas: convencer os fardas para que permitam a entrada dos carros no Senegal sem CPD. Policia senegalesa - € 10 e recebe-se de troco CFA 2.000. Recebe-se se os pedir, senão ficam. Vamos penar para a aduana. Entra o António que tinha dito que não pagava um euro para além do devido para entrar. Claro que o resto do pessoal estava bastante mais flexível. Todos tínhamos consciência que nos faltava o documento que permitiria a entrada dos carros. Passado cerca de uma hora sai sem sucesso. Propus-me tentar. 













Chegamos á fronteira às 14.30h e eram 18.30h quando estávamos a entrar no Senegal doidos por uma “Gazelle” gelada na esplanada no Hotel de La Post. Ainda não tínhamos andado 3 kms, controle de polícia. “Deslargem-me melgas”. Tinham o chip do extintor e do triangulo. và lá, estavam “on board”. Obras na Ponte Faidherbe. Transito já se si caótico está bloqueado. A entrada de St. Louis é um mercado africano. Topam? 






Ficamos no La Post: já é paixonite. Regateio, duplo a.p.a € 50 e triplo € 60. Vamos é para a piscina que está óptimo. Depois de uma tarde tão stressante um banho de piscina sobranceira sobre um dos braços do Rio Senegal… Ligeiro passeio pela cidade. Está “morta”. A crise global espalha-se simultaneamente. Jantar no Flamingo, vista de olhos no bar sempre com “live music” e para o quarto que há wi-fi. Sono, sono… o romantismo do La Post relaxa, inspira, exalta a saber mais sobre o seu passado e o da cidade colonial onde foi implantado, outrora capital do país. O nosso quarto está virado para a rua principal. Durante a noite foram passando autênticas “promenades” de locais tocando e cantando.


08.08.2010 


Domingo. St. Louis acorda devagar e tarde. É o melhor dia para visitar a cidade. Os insectos são menos insistentes que os vendedores e os pedinchas. O pequeno-almoço do La Post melhorou substancialmente. Outro ligeiro passeio pela cidade até ao outro braço do Rio Senegal – é a zona piscatória e parece um caixote de todo o lixo da ilha. Já nem falo do cheiro. É recorrente em África. Seguimos para o Mali pela fronteira de Kidira. Vamos percorrer a riviera senegalesa. Os habituais controlos de polícia. As povoações e mercados que esmagam o alcatrão que os separou. “Alhamdoulilahi” deve ser a mais famosa companhia de transporte de passageiros por estas bandas com os seus furgões a cair de podres.
Depois de St. Louis só há combustível em Ross Béthio. Rumamos ao interior e vive-se a época das chuvas. Ainda assim, entre as 11.30 e as 17.30h, quando o céu está limpo, tudo arde e quando está encoberto tudo coze. Imagine-se a época quente. É demais viver debaixo de tanto rigor climatérico. A sombra é o lugar mais almejado por todos os seres que respiram. A paisagem está verdejante. As acácias estão “gordas” de tanta folha. Não são os espinhos que sobressaem. Almoçamos debaixo de uma delas. 





Estão 34° mas corre uma frescura na sombra da nossa protectora solar. Estamos divinos. O pintor que pouse o pincel. Ninguém mexa no climatizador. O Miguel confeccionou e ofereceu-me uma pasta al pene com cogumelos Continente made que recomendo vivamente.


Circula-se bem. O tapete é bom e o trânsito escasso. Contudo, o condutor não deve baixar a guarda: buracos e animais podem revelar-se fatais. É um esticão de St. Louis a Kidira. A estrada rende ou o cansaço começa a criar depósito.
Perto do destino mais um “ex libris” que ainda não tinha aparecido – o embondeiro – também lindos e vestidos de gala nesta época húmida.
É precisamente debaixo e ao redor de um enorme exemplar dessa espécie que montamos o acampamento para esta noite. Estamos a 10 kms da fronteira, a temperatura está magnífica, fazemos uma fogueira enorme (não há risco de incêndio, está tudo verdejante). Foi uma soirée e noite de rara paz num palco onde os músicos só se ouviam. A meio da noite alguém decidiu refresca-lo ao de leve. A música, essa, com altos e baixos, nunca parou.





09.08.2010 


O objectivo hoje é Bamako. Para mim é duplo pois fiquei pelo caminho em Janeiro com o BB 2010. Esqueci de referir que com o Ramadão estes países que visitamos acertaram a hora para -1 GMT.
Levantar camping e rumar à fronteira. Logo que se chega a Kidira há que virar à esquerda para o primeiro carimbo de polícia. Voltar, passar a vila na direcção da fronteira. Começa o mar de camiões que levam géneros do porto de Dakar no Senegal para o Mali, pais sem mar. Ele que foi o grande reino do Mali ficou sem saída para o mar. Segundo controle de polícia de fronteira. Segue a alfândega (douane) para dar saída do carro entregando o nosso precioso e caro passavant de 48 horas conseguido em Diama. Como estamos a pensar voltar pelo Senegal questionamos a alfândega sobre a entrada do carro e pareciam desconhecer a problemática da nova circular de serviço. Nunca confiando. A ver vamos na volta. 

Finalmente entro no Mali depois da tentativa falhada de Janeiro com o BB 2010. A fila de camiões dos dois lados da estrada é interminável. Dirigimo-nos á alfândega – papéis do costume, documento único, passaporte e seguro – tudo bem mas o fardas do carimbo não está. Trabalhou até tarde e está a dormir. Há que aguardar. Quanto tempo? Há que aguardar. Afinal, como não temos visto há que ir para trás cerca de um quilómetro e meio fazendo slide através dos camiões, com saídas e entradas de estrada para depois entrarmos para o povoado onde, depois de muito procurar e circular, lá encontramos o comissariado.
Chegamos à fronteira às 8.30h e só às 10.30h é que conseguimos livrar-nos da alfândega contra o pagamento de € 10 por carro. Às 12.00 ficam os vistos prontos. São € 25 por vistos. Mas como pagamos em €s temos que pagar mais € 20 porque os fardas têm que ir a cerca de 20 kms para fazer o câmbio. Esta malta tem uma imaginação para “sacar pasta”. Tudo pronto para seguir. Tudo ou quase: agora é um camião que bloqueia a estrada. Têm um milímetro de cada lado para cruzar. O milímetro começou a encolher e como resultado foi arrancado pedaços aos camiões que estavam dos lados, deixando também alguns seus. Aparecem os interessados para ver os estragos. Como já temos espaço para passar, aqui vamos. É a fronteira rodoviária de mercadorias. Imagino o caos e o custo para desalfandegar as mercadorias mesmo estando na UEMOA.











A estrada está boa até Segala. Depois são só buracos. Mas buracos de asfalto que se nos cuidamos nos levam um pneu, uma jante, um eixo, etc. Seguíamos à frente, no HDJ e depois o Patrol. Passamos o pessoal do Peugeot 405. Alguns quilómetros à frente o Fred perdeu o Patrol de vista. Paramos para esperar por eles e comer algo. Comer, fomos comendo. O Patrol é que não aparecia. Tentamos pelo rádio, nada. Voltamos para trás. Alguns quilómetros depois conseguimos contacto pelo rádio. Vinham a rebocar o Peugeot.




Na curva seguinte logo apareceram. Num buraco mais profundo, abordado com excesso de velocidade, o Peugeot partiu o cárter. Decidiram que o Joan e o David iam a Kayes com um local buscar um cárter e a Mónica e o Ivan seguiam no carro, rebocados pelo Patrol, até ao povoado seguinte onde havia um mecânico que o iria arranjar. Seguimos juntos. O Patrol / Peugeot à frente, nós no HDJ e o Subaru que entretanto apareceu. Rebocar um carro numa estrada cheia de buracos é obra. No rebocado, dos travões, só o de mão é que funciona. Imaginem a perícia. Para completar a paisagem segue à nossa frente um autocarro turístico da “Sangue Voyage”.
Um pouco adiante, a argola de reboque do Peugeot cedeu e o Patrol quase lhe arrancava a frente toda. Toca a parar para “remendar” a frente do Peugeot e procurar outra peça onde amarrar a cinta. Não foi obra fácil. A frente estava toda “esventrada”. Cinta de aqui, cinta de ali, lá ficou parecido com estava anteriormente. Para colocar a cinta houve que subi-lo com o macaco e o corajoso Diego lá se atirou para baixo do Peugeot para fixar a cinta no charriot. Em andamento. A povoação nunca mais chegava. Chovia, os buracos aumentavam, mas íamos progredindo. Chegamos a Santaré. Saímos da estrada para o interior da população. Se aqui não é o fim do mundo, estamos perto. Afinal o mecânico está na borda da estrada de onde saímos. Quando paramos para saber onde ficava a oficina do mecânico, como do costume, juntou-se toda a populaça e desde logo, o tolo da aldeia que, como era surdo, tinha um tubo ligado á viola que colocava no ouvido quando tocava. Lá apareceu o mecânico, há que empurrar o carro para a oficina que fica a 50 metros. Custou-nos muito deixa-los. Mas foram eles que escolheram tamanha aventura: atravessar meia África num Peugeot 405. Isto fazia parte da aventura. Ficamos em contacto. O Subaru decidiu ficar mais um pouco até que os outros chegassem o que não tardaria muito dada a informação que logo recebemos. São 17.30h e ainda não andamos nada. Tarda nada escurece. Seguimos para Bamako? Ficamos em Diema? 



Para já o objectivo é Bamako pois passado Sandaré o asfalto está impecável. O trânsito é diminuto. É só andar. Os quilómetros é que ainda são muitos.
Começa a chover forte. Parece que cai em chapa quente. A luz do dia também não vai aguentar-se muito. Pelas 19h anoitece. Bem sabes um principio básico – não conduzir em África à noite – mas a vontade de chegar a Bamako é muita, tanto mais que, pelo caminho, só camping. Faltam 300 kms. Mais á frente decidimos fazer um café. Já tínhamos percebido que não ia ser fácil sair dos carros. O ar estava empestado de insectos. Não só nos picavam como os respirávamos. Estavam dissolvidos no ar que inspirávamos. Insistimos. A noite está magnífica não fora os insectos. No meio do nada pode-se observar convenientemente o céu em todo o seu esplendor. Os sons da savana também eram emitidos sem receios e sem interferências. Fizemos e tomamos o café para logo seguir viagem. A 100 kms de Bamako, do lado esquerdo da estrada estava parte do grupo. Paramos para dizer ao António que só parávamos em Bamako e despedimo-nos até ao dia seguinte.
Os últimos quilómetros têm mais metros. Nos arredores de Bamako a estrada começa a subir parando nos 550 metros. A cidade estende-se pela planície que se segue. De cima enxergamos o “lago” de luzes da cidade, qual Los Angeles. São 2.30h da madrugada. Ainda assim não resistimos dar uma volta de carro pela cidade. Segunda-feira a cidade está calma mas nos arredores das discotecas há uma multidão aguardando entrada. Depois do passeio fora de horas fomos para o Grande Hotel de Bamako que é um pouco carote. Capital é capital. Depois de muito negociar lá fixamos o alojamento em € 80 por quarto.



10.08.2010 


 Negociamos o pequeno-almoço “self-service” por € 15 para dois. Em África se não se negoceia paga-se o dobro ou o triplo, mesmo em cadeias internacionais. Eles também adoram negociar. A transacção não tem graça se não é discutida, negociada, prática que lhes adveio dos árabes. O HDJ tem uma cavilha no pneu traseiro esquerdo. É um atraso para as nossas intenções de chegar cedo à embaixada do Burkina Faso para pedir (e pagar bem pagos) os vistos. Passaporte, formulário preenchido e duas fotos e CFA 47.000. Com a proeminência do euro raramente tenho moeda local. Lá fomos a um hotel próximo sacar CFA de uma caixa automática. À saída diz a “madame” do guichet: “Passem aqui amanhã de manhã. O quê? Hoje vamos dormir a Segou. Ok, passem às 15h e se não estiver pronto esperam. É que há muitos vistos para emitir”. O pessoal neste continente é muito ocupado em deixar correr a vida.
Voltamos para o hotel. Está fresco e lá fora está canícula. Há wi-fi, cervejinha e uns belos sofás. Relaxemos. A máquina MB do hotel “apanhou” o cartão ao Tomás. Pronto já tem que penar. Consegue o número de telefone da encarregada da máquina e já não a larga mais com chamadas. Por volta das 14.30 lá consegui reaver o cartão. As 15h saímos para a embaixada e às 15.30 já tínhamos os passaportes com os vistos e estávamos aptos para abalar para Djenné. Para deixar Bamako atravessamos o Rio Níger que, juntamente com o seu afluente Bani, nos vai acompanhar nos próximos dias. Estão a transbordar nesta época. Embora o Mali não tenha SCUTS tem portagens. Seguimos para Segou.



 A savana apresenta agora evidências de transição com a rainforest, sua vizinha mais a sul. Segou fica na margem sul do Rio Níger. Chegamos já de noite. A entrada em Segou é feita numa estrada recta com uns 12 kms iluminada como poucas na Europa. Ficamos admirados. O “Auberge” era castiço, típico, com boa musica e bom ambiente. Os habituais vendedores de porta de hotel, um dos quais um tuareg vestido a rigor. Lá lhe comprei um cachimbo e duas pulseiras depois das habituais negociações. Sempre que negoceio com muçulmanos fico com a sensação que fiz um mau negócio. Desta não foi excepção. Este pessoal também precisa se encaixar umas moedas. Este, além do mais, dizia-se vindo
 de Tombuctu e estava vestido e bronzeado a rigor. Os quartos são separados uns metros da recepção e do restaurante onde jantamos bastante bem.