26 de agosto de 2010

Diário Raid Burkina 2010 (dia 11 a 15)

Reproduzo aqui o Diário de Viagem de D.S. amigo e companheiro nesta tão singular viagem pela África do Norte e Oeste .


11.08.2010 


Madrugada e manhã de tempestade tropical. Muita chuva, trovoada e vento. Temperatura sempre boa. No “Auberge” de Segou o triplo a.p.a são CFA 39.000. Ao de leve Segou recomenda-se. Apelidava-a de uma cidade rústica e cosmopolita. O Rio Níger é enorme em frente às margens da cidade. Transborda também. O nosso destino de hoje é Djenné, famosa pela sua grande mesquita de barro. Depois de 30kms em asfalto entramos em pista de barro. Serão 230kms de magnífica pista de barro até ao destino com passagem por 

vários povoados. Paisagem bucólica e chuva só um pouco. A terra quente e a vegetação transpiram e o seu suor é de um odor forte, que oprime os brônquios não deixando contudo de ser agradável, relaxante. 
 Próximo de Djenné chama-nos a atenção um povoado distante pela sua enorme e imponente mesquita. Pelos binóculos vimo-la melhor. É imperdível. Vamos visita-la. O ritual introdutório é cumprimentar e conversar um pouco com os anciãos da aldeia que desta estão meio deitados numa plataforma à entrada. Depois, com o seu consentimento e umas CFA para cola lá fomos visitar o povoado. 

Ruelas muito estreitas, em barro, lama e água mas em tudo o mais limpa. Brincamos e fotografamos a criançada que estava eufórica. Chegamos à mesquita no ponto mais elevado. É magnífica mas está “asfixiada” pelo casario pelo que não pode ser devidamente apreciada e fotografada. Os insectos não nos largam. Voltamos a descer e retomamos a pista para o nosso destino.

Djenné é uma desilusão como urbe. O seu pessoal não fica atrás. Alojamo-nos no “Campement Hotel Hauber” – quarto triplo CFA 25.000 e duplo 20.000; pequeno-almoço CFA 2.000 e jantar CFA 5000. De “campement” tem os telhados dos bungalows que nesta época são inutilizáveis. Pessoal do hotel pouco simpático e prestável. Sem net, chovia pelo telhado de palha da recepção, os bungalows tinha a.c. mas eram paupérrimos. A “foto” estava feia. Não merecia a impressão quanto mais a moldura. Se fosse possível carregava no “delete”. Tudo muito fraco. Demos uma volta à vila. Na praça a seguir ao hotel decorria um jogo de futebol entre djennenses com uma bola muito leve e fugidia. Seguimos para a mesquita sempre acompanhados pelos insectos voadores e os pedantes também. Não há forma de te livrares deles. A mesquita está em obras e custa uma fortuna visitar o seu interior que nada tem de interesse. É apenas para franquear. Queríamos comprar uns chapéus Dogon e o Antonio disse-nos que o melhor local era o mercado que transbordava para a praça da mesquita. A mesquita fica melhor na fotografia. Vá lá – é fotogénica. Lá entramos no recinto do mercado.


A enxovia e o colorido do costume, sujo e fedorento. Sempre que podemos “roubamos” umas fotos. As vendedeiras não curtem principalmente porque não compramos nem confraternizamos. É “roubar” mesmo. Conscientes mas não conformados sempre a fazer click. O “man” dos chapéus não veio mas o nosso guia involuntário diz que logo ali e coisa e tal não faltam chapéus bons e baratos claro. Não fizemos negócio para seu descontentamento. Como não fiz grande negócio com o tuareg de Segou decidi que os próximos remediariam o deficit. Aceitaria ser benevolente se houvesse troca por roupa que levava para o efeito. Caso contrário só pechincha. Mas o que regala as vistas deste pessoal é o material electrónico. Não voltamos para o hotel sem que o nosso guia nos levasse pelas congostas do vilarejo e nos fizesse entrar numa casa e subir até ao telhado onde havia chapéus. Por um momento pensamos que nos estava a por a jeito mas não esta gente é ardilosa, teimosa, melguenta, mas não é delinquente nem violenta nestes cenários. Já no recinto do hotel, logo à entrada, existiam umas barracas de artesanato. Tinha peças interessantes inclusive os chapéus. Antes e depois de jantar foi uma azáfama negocial. Ao jantar não tinham bebidas alcoólicas nem permitiam que trouxéssemos as nossas. Ficamos furiosos. Perguntamos se era pelo facto do Ramadão começar no dia seguinte – o que até compreenderíamos – dizem que não. A proibição é para sempre. São motivos religiosos. Grandes talibãs. Tirem-me daqui. Ficou famosa a frase – “Djenné jamais”. Quanto às negociatas fui mais uma vez bastante benevolente nas trocas. Resumindo: comprei três colares na urbe por CFA 10.000 e a um dos comerciantes do hotel, uma máscara, uma estátua Bambara (a Tiuara que é o troféu atribuído ao melhor agricultor do ano) e um chapéu Dogon por € 40 e 4 pólos. Por ele ficávamos a negociar mais material mas eu logo disse que a partir de agora seria só troca directa.

Apareceu o homem do Subaru que tinha ficado em Bamako a tratar do visto para a Mauritânia. Claro que na embaixada ficaram curiosos como é que ali estava sem visto. Clandestino pois claro. Grande maluco. Anda por aí sozinho por estradas e pistas. Desta, quando se dirigia a Djenné, para cortar caminho, meteu-se já de noite numa pista. Acontece que, logo à frente a pista estava alagada. Parou no último momento. Mais um pouco passaria a noite atascado no meio do nada e com os pés molhados. Borrou-se todo. Isto é sorte pura e um acto destes é manifestamente reprovável. A aventura pode terminar com um acto irreflectido destes. Para si e para os companheiros de viagem. Acresce que, como anda num carro a gasolina, desespera para arranjar combustível e anda carregado com bidões de plástico cheios na mala. Uma bomba relógio este Glacius. O seu móvel não funciona. Uma figura desafogada à solta em solo que pede alguns cuidados.
Depois do jantar voltei aos negócios por insistência de um dos comerciantes. Logo lhe disse que não tinha mais dinheiro. Só troca por roupa. De volta recebi o casal de estátuas Soré (do povo Amoré, rima não é?) em bronze e nas quais se encontra a serpente símbolo da abundância e da sorte – a serpente de um modo geral vive onde há abundância de água, vegetação e outros animais que lhe servem de petisco. Acabo de atender este e logo sou chamado pelo primeiro. Desta foi ao baú buscar as preciosidades. Pronto mais umas roupitas e lá trouxe uma máscara Bozo em terracota e outra em ébano para equilibrar o negócio. Bom, se não foi assim foi parecido. Só vou confirmar quando “desmontar” os embrulhos e as malas. Estes comerciantes ganham a vida com o artesanato mas fazem questão de discutir o preço explicar o significado de cada peça, especialmente as máscaras e as estátuas. Nós é que entramos e saímos a todo o gás pois o raid não permite muito relax.


12.08.2010 


Madrugada de chuva forte. Manhã encoberta mas sem chuva. Entrar e sair de Djenné pelo lado sul obriga a usar o ferry para uma pequena travessia do Bani, afluente do Níger. Como sempre os vendedores aguardam os viajantes. Lá fiz mais um negociozito – uma estátua esguia em bronze de uma agricultora. As esguias estátuas africanas são magníficas. Hoje terminamos a nossa etapa em Sangha, um dos muitos povoados do Reino Dogon. Estes povoados situam-se por toda a Falésia, Planalto e Planície de Bandiagara. Pelo caminho temos um P.E. nas Ruínas de Hamdalalle a norte de Somadougou (e não a sul como o António colocou no programa para o pessoal se perder e falhar o ponto) e outro, no porto fluvial de Mopti onde almoçaremos. A paisagem é sempre verde, viçosa e está tudo enlameado. Após a época das chuvas as construções e casas, feitas de barro, têm que ser restauradas. As suas paredes vão sendo corroídas pela chuva forte transformando-se em água lamacenta que corre pelas ruelas e esgotos a céu aberto. Após as ruínas, percorremos 30 kms de pista até Mopti. Bela pista.





Em Mopti o PE é no grande porto fluvial. Daqui afluem todos os barcos que transportam pessoas e mercadorias pelo Rio Níger até Tombouctou com vários apeadeiros. O Restaurante Bozo onde planeamos almoçar ficava no lado contrário ao que estacionamos. Para não contornarmos o perímetro, obra deveras difícil, apanhamos uma “pinaza”, uma piroga local feita em tronco de árvore escavado que, com muita gente a bordo assusta um pouco pois a água quase entra a bordo. A ideia de cair naquela água suja e barrenta não é nada saudável. O prato não podia deixar de ser peixe capitã que parece que o tiveram que ir pescar após a encomenda. Demoram duas horas para nos servir, por defeito. Depois a quantidade foi muito pequena para o pessoal. Estava bom? Isso sem dúvida. Não parecia peixe de rio. Magnífico pitéu. 
Claro que tudo o que é vendedores nos aguarda. Passamos pelos estaleiros onde são feitos com muita mestria os veículos que nos transportaram. Voltamos de piroga desta só eu, o António e outro passageiro que fomos deixar a um barco bastante maior, ao que presumi para uma jornada mais longa. Isto fez com déssemos um passeio por toda a baia do porto que tem um transito fenomenal de embarcações de grande colorido e tamanho variado, algumas preparadas para fazer o “cruzeiro” de vários dias até à capital do deserto. Abriu o sol e sentimos logo o rigor tropical mesmo no meio da água.

Chegados ao “parking” grande confusão: tudo e todos queriam receber o parqueamento das viaturas. Como os empurramos todos para o António, “no veas”.
Continuamos para Sangha, via Bandiagara, onde vamos ficar hoje e amanhã para visitarmos alguns povoados. São 50kms de asfalto e 30kms de pista de barro e rocha mas sem pedra solta com alguns vadeos. Ficamos no Campement/ Hotel La Guina – triplo CFA 30.000 e duplo CFA 25.000; p.almoço CFA 2.000 e refeição CFA 4.000. Ao jantar conhecemos um casal holandês que viajava com as três filhas. Vinham de Roterdão em dois 4x4. Na Mauritânia andaram pela Pista do Comboio, Atar, Chinguetti, Tidjika e finalmente Tombouctou onde venderam um dos carros. Daí seguiram para o Reino Dogon. Depois de um serão de troca de vivências, experiências e duas de branco fresco tudo a dormir.



13.08.2010 


Hoje não levantamos arraial. Vamos visitar os povoados circundantes e voltamos à base. Um local veio perguntar ao Vicente se queria que lhe lavasse a roupa ao que este respondeu que sim, dependendo do preço. Acho o valor tão exorbitante que lhe disse para ele ir buscar a roupa dele que ele, por esse preço também a lavava. Confirma-se que a África é pobre mas não é barata. Lá fomos dar o nosso passeio pela falésia que é magnífica com a sua imponente queda de água e as construções Telem e Dogon nas rochas até alturas impensáveis. Descemos a falésia e já no planalto, a 350m de altura, contornamo-la admirando as construções edificadas na base e arribas. Paramos numa plateia natural virada para a falésia, entre três árvores, para preparar o almoço. A temperatura está fabulosa, o céu nublado com abertas. Um lugar a fixar (N14°26.580’/W03°17.786’).


Está a sair uma tortilha com cogumelos feita pelo Tomás e esposa que está com um óptimo aspecto. Não era só aspecto.
Quando não eis que aperece um Toyota de aluguer com condutor com o pessoal do Peugeot 405 que tinham ficado em Sandaré – o Joan, o David, o Ivan e a Mónica. Não tínhamos notícias deles há três dias e aparecem – nos neste lugar remoto. Por estas bandas, vá lá saber-se porquê estamos sempre a ser surpreendidos. Repararam-lhe o cárter, deram um “jeito” na frente e já está apto para rolar. Por precaução deixaram-no em Bandiagara e vieram para os povoados de 4x4 alugado. Foi uma surpresa magnífica. Nada sabíamos da sua sorte e, afinal, conseguiram avançar “alive and kicking”. Almoçamos juntos enquanto nos contaram os pormenores da sua aventura. Não podiam faltar os habituais locais que aparecem do nada e nos “envolvem”. Um deles montou banca de artesanato e, diferentemente de todos os restantes que nos melgam, não disse uma palavra. Fomos nós que nos abeiramos e lá fiz mais uma comprita: duas pequenas estátuas dogon em ébano que apelam à boa sorte. Voltamos para o hotel e de seguida fomos visitar Sangha, o povoado dogon onde estamos acompanhados por um residente, o Suliman. A aldeia é comunitária varia entre o barro e o xisto, com ruelas muito estreitas. O povo dogon é agricultor. Os seus vizinhos Peul são pastores. A casa da família é um elo muito importante. Quando casam os dogon “montam” casa mas a casa dos pais continua a ser a casa da família que fica em herança para o filho mais velho. A família do Suliman é a “Tartaruga”. Então, no curral, que fica no perímetro exterior da casa, têm uma tartaruga convivente com as cabras e as galinhas. Algumas casas têm cozinhas típicas dogon – a parede frontal é decorada em favo e têm pendurados vários objectos de culto e do quotidiano e caveiras de animais. A porta principal e o postigo são esculpidos. No beiral superior estão cheias de ninhos de andorinha. É também vulgar o silo para guardar os cereais. O chão é em terra batida e nesta aldeia encontra-se sempre bem limpo. Fomos visitar a casa do ferreiro e sua forja. É uma actividade importante na aldeia. Conhecemos também a viúva do anterior Ogon – o ancião chefe da aldeia. Muito de fugida apontou-nos o actual que aparentava pressa. A praça dos povoados Dogon têm uma espécie de telheiro com pilares e estrutura em troncos de madeira e telhado com várias camadas de colmo onde os mais velhos passam parte do dia a descansar e conversar em compridos bancos de madeira que, com o uso até estão brilhantes, de polidos. têm também como função serem “A Casa da Palavra” da aldeia. Quem tiver algo para dizer ou alguma queixa a fazer à comunidade é nesse local. E por esse motivo que têm o tecto tão baixo. Se o orador se exaltar e levantar logo bate com a cabeça nas traves e amansa. Cool. Existe também na aldeia as “Maisons des Régle” que são umas cubatas periféricas à aldeia para onde vão as mulheres quando estão no período menstrual. Deixam a sua casa de família e vão para essas cubatas. Passado o período regressam à família. Prontos pá. Visitamos também o túmulo do primeiro francês que visitou o reino dogon e cuja ossada ficou em Sangha. Visitamos também o moinho comunitário que têm pouco encanto – já é a gasóleo. Assim terminou a nossa visita e voltamos ao hotel com o nosso guia e mais um que se colou. Oferecemos-lhe uma cerveja e estivemos a beber e aconversar um pouco com eles. Acho que não estão habituados a beber e logo perderam o “fio do jogo”.


Após o jantar ouvia-se sons de festa vindos da aldeia. O Miguel e o Tomás decidiram ir ver. Chegados encontraram um grupo de jovens a cantar e adançar sendo que as raparigas é que cantavam e dançavam e os rapazes limitavam-se a assistir. Terminada a festa dirigiram-se aos intrusos a solicitar “cadeuax”, o costume. O Miguel que andava sempre com os seus balões para oferecer à criançada deu-lhe para encher alguns e começar a dar aos presentes. Bom, a coisa não caiu bem. As raparigas acharam o “cadeaux” desajustado e começaram a barafustar contra eles. A coisa começou subir de tom, enquanto os rapazes tentavam acalmar as moçoilas. O Miguel e o Tomás começaram a ficar amedrontados e a recuar sem tirar os olhos de cima delas já que, quando voltaram costas, começaram a “voar” algumas pedras. Imaginem isso num cenário de ruelas muito estreitas e sem qualquer luz a não ser a lanterna de cabeça do Miguel que era um dos objectos cobiçados. Quando conseguiram algum espaço deram a correr para fora da aldeia em direcção ao hotel. Não ganharam para o susto e valeu-lhes que os moçoilos em vez de se empertigarem procuraram acalmar a ira das fêmeas. Não ganharam para o susto. Esterismos colectivos nestes cenários são complicados.
Para sexta feira 13 a coisa correu-lhes bem.



14.08.2010 


Temos hoje pela frente uma longa jornada. Vamos atravessar o Reino Dogon e visitar alguns dos seus povoados percorrendo 80kms de pista que, com as recentes chuvadas estão inundadas e enlameadas com alguma zona de rocha também; cruzar a fronteira do Mali com o Burkina Faso e o resto do trajecto até Ouahigouya parte deste em estradão de barro. Desciamos a falésia e vimos à esquerda, entre o arvoredo, um Patrol com matricula portuguesa. Paramos e dirigimo-nos ao jipe logo aparecendo um nosso patrício com quem trocamos algumas vivencias de viagem. Andavam a “circular” por África à três meses e vinham da Guiné Bissau. Passamos várias aldeias e paramos em duas – Domblossougou e Barapireli - para visitar e tirar umas fotos. O ritual é chegar aos povoados e dirigir-se aos anciãos que normalmente estão a dormitar na “Casa da Palavra”. Cumprimenta-los e dar-lhes alguns CFA. Só depois é que se pode visitar o povoado e tirar umas fotos. Sucede que em um dos povoados os velhotes não ficaram lá muito contentes com o donativo e manifestaram – no. Ainda tirei uma foto a um deles e ao telheiro mas quando ia para fotografar outro, já não permitiu. Foram conversando com o António a pedir mais algum enquanto nós íamos “roubando” mais algumas fotos. A 15 kms da fronteira atasquei o Toyota que teve que ser rebocado de traseira pelo Patrol do Miguel. O António começou a gozar mas não tardou foi a vez dele de atascar. A pista termina num pântano bem difícil de ultrapassar e termina em Koro, povoado fronteiriço onde está a aduana e se entrega o passavant. Para encontrar o posto deciframos um autentico labirinto; 10kms à frente a policia de fronteira. As instalações uns barracos; as linhas de fronteira umas pedras e uns bidões. Segue-se a fronteira do Burkina Faso. Toda esta ligação é feita num estradão largo de terra vermelha que dá para rolar bem. As instalações burkinabes têm melhor aspecto e só pagamos CFA 500 na policia e depois, em Thiou, mais CFA 5000 para a aduana. As demarches de entrada no Burkina são muito mais simplificadas. Alás é um pais mais limpo e organizado que os anteriores que visitamos. A Luso Team (nós no HDJ 80 e o Miguel e o Diego no Patrol) tinha decidido levar o Diego a Ouagadougou para apanhar o avião no dia 16 logo não ficaríamos em Ouahigoya. Comentamos com o pessoal e decidiram irmos todos para a capital principalmente quando o António disse que o hotel tinha piscina e pizzas. A pista de barro mais à frente fica demolidora com tanto buraco e regos. Tremenda mestria a das cabras a comer em duas patas as folhas das acácias carregadas de picos enormes. Está tempestade para os lados da capital. Esperamos que seja passageira. Não é. Pelo contrário está a agravar-se e já não se vê a 30 mts. Depois abrandou mas não parou. Ouagadougou recebe-nos molhada. É a cidade das bicicletas. São aos milhares. Tínhamos planos para um passeio depois do jantar mas a chuva e o vento não pararam e desanimamos. Apenas o Diego que não tinha jantado decidiu ir ao centro. Lá convenceu um dos funcionários do hotel e foram na mota deste. Estava focado em jantar no “De Niro” dada a indicação do Lonely Planet. Nada feito. O restuarante aparentava estar fechado de vês. Terminou num chinês e deu uma volta pelo centro. Descobriu o “Loft” para beber um copo mas cada cocktail custava € 8 e o seu acompanhante recusava-se a tomar uma bebida por esse preço mesmo sendo o Diego a pagar. Tomara. O seu salário mensal são € 50.
Quem estava também no hotel era o Pepicant de quem nos tínhamos despedido em Sangha. Foi para a capital pois ia também regressar de avião na madrugada seguinte e pretendia vender o seu Pajero. Teve sorte e naquela tarde conseguiu negócio por um preço bem razoável. Despedimo-nos mais uma vez dele e do filho desejando-lhes boa viagem. A nós desejaram-nos o mesmo.





15.08.2010 

A manhã foi também de despedidas. Do Diego, companheiro de viagem do Miguel e que andou sempre com a Luso Team e que partia para Inglaterra. Fizemos grande amizade e prometemos reencontrarmo-nos o mais rapidamente possível. Despedida também do famigerado Team Peugeot 405 que já não seguia para Bobo. O seu destino sempre foi Cotonou, capital do Benim. Com o azar do cárter já não quiseram desviar-se de rota e estavam indecisos se vendiam o Peugeot em Ouga ou se seguiam nele até ao seu destino e vendiam-no lá. Espero postar aqui a continuação da sua aventura descrita pelo Joan, um jovem médico que já aparentava muito “know-how”.
Despedidas feitas fomos dar um passeio pelo centro da cidade que embora limpa e arrumada não mostrou nada de atractivo. É uma capital pobre de um pobre pais africano. Mas briosa. O calor e a humidade que se faz sentir logo nos empapa. Vamo-nos habituando mas não somos destas bandas.
Hoje, em Bobo Dioulasso termina o Raid Burkina 2010 e é para lá que nos dirigimos. Pelo caminho desviamos com o Miguel para apanhar um geo – tesourinho. Passamos por uma coluna militar apeada chefiada á frente atrás por duas mulheres. Burkina no seu melhor. Procurar tesourinhos em geocaching é sempre obra. Fuça aqui, fuça ali. O tesourinho, ao que parece, foi colocado no terreno que pertencia a uma missão e o local evidenciava obras recentes. Lá foi o dito. No problem. Procura-se outro. À saída da cidade vários troncos de árvore esculpidos. Uma boa ideia. Em vez de arrancar as arvores, que tal esculpi-las?
Saímos de rota para mais um tesourinho falhado mas desta subiram em vão um promontório bem íngreme e distante de onde aparcamos os carros.
Em África não há reboques ou são raríssimos. Se tens uma avaria na estrada que não possas deslocar-te por meios próprios a solução é fazer o conserto na estrada. Se for necessário substituir peças à que tira-la no local e ir buscar outra para repor. Se for para consertar peças o processo é o mesmo. Desmontar, ir conserta-la e voltar para a repor. Para sinalizar as avarias em estrada usam arbustos. Cortam uns quantos e colocam-nos à frente e atrás do veiculo a uma distancia razoável.
Chegamos a Bobo Dioulasso. O Toyota saiu de Ourém com 285.848kms e está com 292.770. Rolamos 6.922kms. Alojamo-nos no Hotel Auberge (CFA 36.000 a.p.a.), banho de piscina, de banheira e vamos jantar para festejar o final do Raid Burkina 2010. A mesa está posta na borda da piscina. Dos participantes faltam, por ordem de despedida: o Pablo da BMW que teve um acidente antes de Bojador e foi repatriado para Espanha; o Pepicant e o filho que se despediu de nós em Sangha e voltamos a encontrar em Ouga que e regressavam a Espanha de avião; os quatro magníficos do Peugeot 405 que ficaram em Ouga para seguir para Cotonou, capital do Benim daí de avião para Espanha; o Diego que também ficou em Ouga par voltar para Inglaterra de avião. Convidados a filha de António e uma amiga que apareceu e se juntou ao grupo que passo a nomear: o António; o Roman “Glacius”; o Vicente e seus dois filhos; Tomás e a esposa; a Luso Team composta pelo Frederico, o Domingos, o Diogo e o Miguel. O António, desorganizador máximo propôs que todos fossem considerados vencedores do Raid. A “porra” seria para pagar o jantar e depois dividida por carro. Toda a gente aceitou e coma-se muito e beba-se melhor.Com alguns contratempos terminou bem o Raid Burkina 2010. Para o ano “A Tribo” (La Tribu) vai até à Costa do Marfim.
Depois do jantar ainda fomos ver um show de precursão num clube perto hotel. Aliás, Bobo, é uma cidade de música ao vivo por todo o lado. Toda a noite ouvimos música proveniente de todas as coordenadas.
Amanhã começa o nosso regresso. O resto do grupo, que vai seguir directo, fica mais um dia em Bobo. O nosso próximo destino é Dakar.


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